quarta-feira, janeiro 04, 2006

O grande Zeca Afonso!

José Afonso. É único. E «por acaso» até nasceu em Aveiro, embora, ao longo dos tempos, continuasse haver muita gente incomodada com essa curiosidade. Estiveram para lhe dar uma Avenida, acabaram por lhe dar uma rua, que apesar de recente, já está num péssimo estado.

Em jeito de homenagem, o Aveiro Sempre apresenta aqui um resumo da vida deste grande compositor, músico e poeta.

José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos nasceu a 2 de Agosto de 1929, em Aveiro.
Quando, em 1930, o pai, José Nepomuceno Afonso, foi colocado em Angola, como delegado do Procurador da República, Zeca Afonso, por razões de saúde, permaneceu em Aveiro, confiado aos cuidados de uma tia e do tio Xico, "republicano anticlerical, anti-sidonista".Tinha então um ano e meio, e cresceu rodeado da ternura das primas e dos tios.

De 1932 a 1937 José Afonso viveu com os pais e irmãos em Angola, o que lhe causou uma profunda ligação ao continente africano que se reflectirá pela sua vida fora. Regressa a Aveiro mas breve se reencontra com os pais e irmãos em Lourenço Marques com quem viverá pela última vez em conjunto até 1938.
Quando, nesse ano, voltou para o continente, José Afonso foi viver para casa do tio Filomeno, (seguidor do salazarismo, pro-franquista e pro-hitleriano) então presidente da Câmara em Belmonte, e aí completou a instrução primária. Seus pais, que entretanto se haviam deslocado para Timor, foram aprisionados pelos ocupantes japoneses, durante três anos, até 1945.
Em 1940 instalou-se em Coimbra em casa de uma tia e aí as suas pulsões mais íntimas sobrepuseram-se às influências familiares. Fez o liceu e a universidade em Coimbra, formando-se em Ciências Histórico - Filosóficas.
Foi professor em vários pontos do País.
Em 1958 José Afonso grava o seu primeiro disco "Baladas de Coimbra" enquanto acompanha o movimento em torno da candidatura presidencial de Humberto Delgado. Mais tarde grava "Os Vampiros" que, juntamente com "Trova do Vento que Passa" (escrita por Manuel Alegre e cantada por Adriano Correia de Oliveira) constituem um marco fundamental da canção de intervenção e de resistência antifascista.
Gravou também "Menino d'Ouro" e "Menino do Bairro Negro" em 1962 e 1963.
Em 1964 parte para Moçambique, onde então conhecerá a fotografia amarga da sociedade colonial moldada ao estilo do "apartheid" de Pretória. Professor de liceu, desenvolve uma intensa actividade política contra o colonialismo, o que lhe traz problemas com a PIDE e com a administração colonial, sendo-lhe vedada a sua actividade no ensino.
Mais tarde regressa a Portugal onde é colocado como professor em Setúbal, donde posteriormente é expulso. Para sobreviver dá explicações e grava o seu primeiro LP, "Baladas e Canções".
Em 1967-70, Zeca protagoniza uma intervenção política e musical ímpar, convertendo-se num símbolo da resistência. Várias vezes detido pela PIDE, mantém contactos com a Luar, PCP e esquerda radical. Em 69 participa no 1º Encontro da "Chanson Portugaise de Combat" em Paris e empenha-se fortemente na eleição de deputados à Assembleia Nacional da CDE de Setúbal. Grava o LP "Cantares de Andarilho" recebe o prémio da Casa da Imprensa pelo melhor disco do ano, e o prémio da melhor interpretação. Alvo de censura José Afonso passa a ser tratado nos jornais por Esoj Osnofa!
Em 1971, com arranjos de José Mário Branco, edita o album "Cantigas de Maio" do qual consta "Grândola Vila Morena" que se tornará um símbolo da revolução de Abril. Desde então Zeca participa em vários festivais. É publicado o livro "JOSÉ AFONSO", coordenado por Viale Moutinho e lançado o LP "Eu sou como a toupeira".
Em 1973 canta no III Congresso da Oposição Democrática e grava "Venham mais cinco".Em 29 de Abril desse ano é preso em Caxias.
Após a Revolução dos Cravos, empenhou-se no apoio a organizações populares de base, ao mesmo tempo que participa em numerosos "cantos livres".. Grava o LP "Coro dos Tribunais" onde conta com a colaboração de Fausto, Adriano Correia de Oliveira, Vitorino e José Niza, entre outros. Em 1975 canta em inúmeros espectáculos de dança e lança "Com as minhas tamanquinhas".
Em 1976 apoia Otelo Saraiva de Carvalho na candidatura à presidência da república.
Em 1981 actua no Theatre De La Ville de Paris, compõe a música de "Fernão Mendes" para a "Barraca" e grava "Enquanto há força" e "Fura fura".
Em 1985 José Afonso já se encontra doente, e o Coliseu de Lisboa é o palco do seu último espectáculo. As homenagens multiplicam-se e é condecorado com a Ordem da Liberdade. Já muito enfermo, em 1985, apoia a candidatura de Lourdes Pintassilgo à presidência da república. É editado o seu último disco, "Galinhas"

Morreu em Setúbal, a 23 de Fevereiro de 1987, com 57 anos

2 comentários:

zé das enguias disse...

Já percebemos que é o seu grande ídolo. Mas por favor explique-nos porque o homenageia nesta tão singela data de 4 de Janeiro de 2006? Porque sim ou para chamar a atenção para o estado decrépito da rua com o seu nome? E já agora, é único porque nasceu em Aveiro, como todos os que cá nasceram, ou pela brilhante história de vida (incluindo o ter apoiado o "camarada" Otelo à Presidência) que o Pedro Neves aqui reproduz?
Talvez estejamos de acordo num ponto: era inteligente e a sua música marcará gerações.
Cumprimentos

Pedro Neves disse...

Não é o meu grande ídolo, mas fez-me alguma impressão um aveirense deste calibre ter estado tanto à espera que lhe fosse dado um nome a uma rua, percebe? E claro, se calhar, o significado maior vai para mais uma obra mal feita que foi a própria rua, cheia de altos e baixos, com remendos, etc.
E continua a fazer-me impressão, gostar-se ou não de A ou B, só porque este é de esquerda ou de direita. E aqui em Aveiro o Zeca sofreu com isso. Qual é o mal dizer que se gosta dele como poeta ou musico? Só porque foi um homem de esquerda? A minha opinião, e a homenagem que aqui lhe prestei, nada teve a ver, com as suas ideologias.
Um abraço.